"Como se, de dentro de um planeta que sofreu
irradiação, eu acenasse protegida por vidros antes de virar pó químico.
Elas me olham como se eu fosse um peixe envenenado num aquário
abandonado.
Ninguém me olha, na verdade, mas fantasio tudo
isso e é de fato muito arrogante ter um peito apaixonado. Pra que o peso
do peito apaixonado não nos faça caminhar de ponta cabeças, empinamos
com toda a força o coração. Como se fossemos muito diferentes e
especiais por estar assim. O estado interessante. A gravidez do peito. O
peito com alguém dentro.
Não se sinta mal por eu ficar doze horas do meu dia olhando um ponto
invisível na parede. Ou por eu gemer de leve quando chega a hora de eu
acordar. Ou pela dor nos meus ombros sempre me avisarem que será mais
uma luta pra não ouvir a sua voz, a mais bonita voz que se tem notícias
pelos ares do mundo. Ou por eu segurar os instantes quando afundo na
água, em segundos dramáticos de desistência. Ou por eu ter sempre
moleiras de lágrimas iluminando meus olhos."