quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Passo boa parte de tudo sem doer, sem sentir tão forte. Às vezes nem parece que aconteceu. Mas o tempo todo, ainda, converso e te mostro tudo, o tempo todo. O tempo todo. O tempo todo. Não porque sou sozinha. Não porque era menos sozinha com você. Apenas porque apenas."
Às vezes eu deito na cama e fico quieta, só esperando morrer. E vem aquela bobeira estranha, como quando eu era criança e, de carro na Salgado Filho, me perguntava "Por que é que eu existo?" e me sentia fora do meu corpo. E como nunca achei resposta pra essa pergunta, só fico pacientemente vendo a vida passar, devagar.
E choro, porque queria viver de verdade e sentir de maneiras diferentes. Então durmo, acordo, penso nas coisas que tenho que fazer e saboto todos os planos: "Ah, não estou me sentindo bem hoje!" - o engraçado é que meu corpo obedece, e sempre tem uma dor ou desconforto, que nem sei mais se são de verdade. Mas fico com muito medo do que vai acontecer por eu só esperar, e então, prometo, amanhã eu tomo jeito.
O tempo voa, barulhento, anunciando que outro dia acontece e eu ainda estou aqui, com dor dentro do meu vazio e eu peço, grito: "Por favor, cuida de mim! Me carrega, me faz viver!" E do outro lado só ouço o eco do meu próprio desespero, porque os outros estão ocupados demais vivendo.
De repente a cama e o quarto são escuros demais, e eu só preciso de alguém pra me abraçar, me acalmar, me ninar. Por que é que eu tive a brilhante idéia de sair de casa mesmo? Tenho medo de ficar mais velha e da minha mãe morrer, porque não sou pequena (muito menos grande) demais pra caber no colo dela. Então eu rezo à noite, só pra me sentir mais perto, pra me sentir um pouquinho mais amada, menos insegura.
Esse pedacinho de gente que sou, preciso de amor demais, abraço demais, e o mundo não está sempre à minha disposição. Acho que de tanto eu esticar e comprimir, das vezes em que eu achei que era auto suficiente e me rebelei, ele se tornou frouxo demais pra mim. E eu choro, imploro, "Vem pra cá, por favor, cuida de mim!" E se alguém me responder, vai ser pra dizer que não, agora não, a vida lá fora é bem mais interessante do que ficar deitado na cama, olhando e tentando não fazer parte do mundo.

Porque nada do que você disser muda as coisas que você faz

É, então tá, vou chorar baixinho, fingir que tudo bem, vestir minha capa de frieza e dizer pra mim mesma: "Não, não precisa". Aí meu olho vai arder de um jeito esquisito e vou lembrar do meu pai me censurando por ser assim. Só que eu minto e digo que o nariz vermelho é só alergia - e aproveito pra enganar a mim mesma, tomo dois anti-alérgicos e quem sabe um anti gripal, só pra garantir o sono. Mas até aquele sensação de cápsula - porque esses remédios me fazem sentir de um jeito que não sinto, sei lá - eu fico parada, ardendo, apaixonada, doendo, esperando. Mas a cama continua vazia, a campainha continua quieta e eu vou continuar sozinha, enquanto você passa a noite acordado, com uma companhia melhor do que eu.
E amanhã vou fingir que esqueci - e que não me importei com o nada que ficou comigo o dia todo - enquanto te vejo dormir, querendo socar sua cara que fica inchada de um jeito engraçado. Só que você, meio acordado, sorri, me abraça e murmura um 'te amo' tão lindo que eu fico boba de novo. E mesmo sabendo que mais tarde vou continuar parada, ardendo, apaixonada, doendo e esperando, eu sorrio de volta e finalmente durmo de verdade.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Se você realmente prestasse atenção, perceberia como cada silêncio, sorriso, suspiro, lágrima é um pedido gritado de amor. Sou eu implorando: "Me ame um pouquinho mais do que você consegue, cuida de mim, me carregue pelo mundo!". E cada hora passada, quando me sinto esquecida, é um escorregão mais fundo no abismo - o buraco fundo que é minha (insegurança) infelicidade .

quinta-feira, 3 de junho de 2010

"Sinto falta da perdição involuntária que era congelar na sua presença tão insignificante. Era a vida se mostrando mais poderosa do que eu e minhas listas de certo e errado. Era a natureza me provando ser mais óbvia do que todas as minhas crenças. Eu não mandava no que sentia por você, eu não aceitava, não queria e, ainda assim, era inundada diariamente por uma vida trezentas vezes maior que a minha. Eu te amava por causa da vida e não por minha causa. E isso era lindo. Você era lindo.
Simplesmente isso. Você, uma pessoa sem poesia, sem dor, sem assunto para agüentar o silêncio, sem alma para agüentar apenas a nossa presença, sem tempo para que o tempo parasse. Você, a pessoa que eu ainda vejo passando no corredor e me levando embora, responsável por todas as minhas manhãs sem esperança, noites sem aconchego, tardes sem beleza.
Sinto falta da raiva, disfarçada em desprezo, que você tinha em nunca me fazer feliz, sinto falta da certeza de que tudo estava errado, mas do corpo sem forças para fugir, sinto falta do cheiro de morte que carregávamos enquanto ainda era possível velar seu corpo ao meu lado, sinto falta de quando a imensa distância ainda me deixava te ver do outro lado da rua, passando apressado com seus ombros perfeitos. Sinto falta de lembrar que você me via tanto, que preferia fazer que não via nada. Sinta falta da sua tristeza, disfarçada em arrogância, de não dar conta, de não ter nem amor, nem vida, nem saco, nem músculos, nem medo, nem alma suficientes para me reter. "