sábado, 1 de dezembro de 2012

Muito mais do mesmo


"Uma espécie de bloqueio que me impede de qualquer ascensão pessoal e profissional. Por mais que eu trabalhe, por mais que eu me ache bom no que faço, e por mais que as pessoas endossem isso, há sempre uma voz em mim. E não é humildade. É um trauma, dos grandes.

Quando você termina um relacionamento, as opções se abrem. Você pode dar a volta por cima e recomeçar sua trajetória, você pode tentar recuperar seu amor perdido ou, como eu, você pode optar por fazer nada. Nada nada. Quer dizer, não exatamente nada, porque eu ocupei muito bem meus dias sentindo pena de mim e lutando bravamente para não me tornar mendigo. O que já é grande coisa, se você parar pra pensar."

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

E eu me canso, fico exausta, imploro atenção pro mundo. Choro pra Deus, torço pela capacidade de não existir só um pouquinho. Me abraço bem apertado como se, quem sabe, pudesse ficar tão pequena e, de repente, numa explosão, a vida vira um fiozinho meio prateado e escorre sem rumo pelo chão.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Das coisas que não podem ser nomeadas

"Se eu pudesse usar uma metáfora, diria que abriram a janela do meu peito e tudo de bom saiu voando. Eu carrego só uma jaula suja e escura agora. Se eu pudesse usar uma metáfora, eu diria que tiraram as rodinhas dos meus pés. Eu deslizava pelo mundo. Era macio existir. Agora eu piso seco no chão, como um robô que invadiu um planeta que já foi habitado por humanos. Mas eu não posso usar metáforas porque seria drama, seria dor, seria amor, seria poesia, seria uma tentativa de fazer algo. E tudo isso seria menos.
(...)Não te escrevo porque nada mais tem o tamanho do que eu quero dizer. Nenhum sentimento chega perto do sentimento. Nenhum ódio ou saudade ou desespero é do tamanho do que eu sinto e que não tem nome. Não sei o nome porque isso que eu sinto agora chegou antes de eu saber o que é. Acabou antes do verbo. Ficou tudo no passado antes de ser qualquer coisa. Forço um pouco e penso que o nome é morte. Me sinto morta. Sinto o mundo morto. Mas se forço um pouco mais, tentando escrever o mais verdadeiramente possível, percebo que mesmo morte é muito pouco. Eu sem nome você. Eu sem nome nós. Eu sem nome o tempo todo. Eu sem nome profundamente. Eu sem nome pra sempre."

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Você foi embora, todos crescem e eu permaneço como sempre, com essa vontade camuflada em medo de que a vida me engula. Embora nossas casas estejam lotadas e apesar de todo o riso e festas, continuo sendo aquela que tem que se esconder no banheiro pra chorar porque a vida sufoca demais. Ainda te procuro entre uma gargalhada e outra porque as coisas felizes não fazem sentido se eu não puder compartilhar com você. E fico me perguntando se é alguma espécie de castigo sentir tanta falta de deitar abraçado e ganhar um beijo na testa, porque todo mundo diz que vai passar, mas não passa nunca.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Finito, simples e triste

Você foi e levou consigo toda minha vontade. Vontade de vida, de alegria, de sonhos, de esperança. A parte de nós mim que ainda possuo permanece vulnerável o tempo todo. Porque o caos que me movia não existe. Porque nós somos um ponto final sem fim. A única incerteza que me resta é "E se ele ainda estivesse aqui?".

quarta-feira, 28 de março de 2012

"Aí eu acordo segunda, com dor de cabeça e uma tristeza que nada dá jeito. Porque você foi embora e não volta. Porque a minha vida continuou, mas é tudo mentirinha, é tudo disfarce, todo mundo é remendo pro buraco que você deixou. Toda a vida é uma mentira pra ver se eu acredito que sou feliz. Todo dia é dia de lembrar que eu te amo e não tem jeito."

quinta-feira, 8 de março de 2012

Das coisas inacabadas

Em épocas de ínicios tudo o que eu mais temo é o fim do amor. Mas os ínicios desenvolveram-se em durantes, anos e fins. E foi no nosso fim que percebi que pior do que o amor acabar é ele permanecer: lá no fundo, queimando e apontando nas noites em claro, implorando pelo não-esquecimento no exato momento em que você mais precisa deixá-lo ir. A todo instante te mandando recordações de vozes, cheiros, risadas, abraços. Te impedindo de seguir em frente embora preso naquele passado que, mesmo dolorido, você nunca cansa de lembrar. Escrever e falar para você não é cultuar alguém que já foi embora. É comemorar a triste continuidade do amor.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"O bom é que nenhum dia é igual. Ontem, ao entrar pela porta do meu apartamento, saí de um dia péssimo. Resfriado, números, números, números, engarrafamento, roupa pra lavar, mãe ligando a cada quarto de hora, vida pra levar. Mas o pior foi uma música da Ana Carolina, esquecida no playlist, a tirar meu sono. Pedi com manha, tremendo o queixo, o mundo me obedeceu e parou pra que eu me jogasse no sofá. Om mani padme hum.

A sala escura, um filme ultrapassado na tevê que só me deixei distrair porque a pilha do controle remoto se aposentou por tempo de contribuição. Fechei os olhos e imaginei você de pé, ao lado do sofá, dizendo que não adianta pressionar forte os botões. Um pano no ombro pra limpar as mãos, perguntando com sobrancelhas de reprovação - "esse filme outra vez?" - vigiando na sua frigideira favorita aquele seus filés de sobrecoxa com ervas melhor do mundo.

Fechei meus olhos sorrindo pra não chorar. Gosto de imaginar você. Seu rosto azulado pela luz da tevê, o filme refletindo na lente dos seus óculos de armação elegante, minha melatonina despencando mansinho, um sonho gostoso se confundindo com o perfume de sálvia passeando fora da cozinha. Você se afastando bruscamente, como quem esqueceu de virar frangos."

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

"Eu ainda sou nós dois. Caminho pela rua como se tivesse trocado de cidade, com ínfimas chances de te encontrar, mesmo com todos meus fios de esperança plugados em você a 220 volts. Apesar de ter ido pra muito longe, nada supera a distância onde vai minha imaginação a respeito de você e eu. Desvio de pessoas, fruteiras, cachorros de rua, do que restou de mim mesmo.

Ando por aí, com pensamentos disléxicos lá em ti. Na minha cabeça, é sempre tempestade de brisa porque lá sempre está você. Fui daqui a Istambul, voltei até o inverno passado, viajei pra lua, qualquer lugar onde o vento me levar, pois algo me diz que é pra lá. A pé, de avião, de barco ou ultraleve, sempre me arrastando pelo chão.

Forço os olhos pra sua feição não desfigurar na minha memória, como já aconteceu com a única polaroide capaz de comprovar sua existência dentro do mesmo plano que fiz."

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando de minha própria força. Sou forte mas também destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais."

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Como se, de dentro de um planeta que sofreu irradiação, eu acenasse protegida por vidros antes de virar pó químico. Elas me olham como se eu fosse um peixe envenenado num aquário abandonado. Ninguém me olha, na verdade, mas fantasio tudo isso e é de fato muito arrogante ter um peito apaixonado. Pra que o peso do peito apaixonado não nos faça caminhar de ponta cabeças, empinamos com toda a força o coração. Como se fossemos muito diferentes e especiais por estar assim. O estado interessante. A gravidez do peito. O peito com alguém dentro. Não se sinta mal por eu ficar doze horas do meu dia olhando um ponto invisível na parede. Ou por eu gemer de leve quando chega a hora de eu acordar. Ou pela dor nos meus ombros sempre me avisarem que será mais uma luta pra não ouvir a sua voz, a mais bonita voz que se tem notícias pelos ares do mundo. Ou por eu segurar os instantes quando afundo na água, em segundos dramáticos de desistência. Ou por eu ter sempre moleiras de lágrimas iluminando meus olhos."

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Esse velho problema de flexão verbal: te conjugar no presente enquanto você permanece preso no passado.