domingo, 12 de fevereiro de 2012

"O bom é que nenhum dia é igual. Ontem, ao entrar pela porta do meu apartamento, saí de um dia péssimo. Resfriado, números, números, números, engarrafamento, roupa pra lavar, mãe ligando a cada quarto de hora, vida pra levar. Mas o pior foi uma música da Ana Carolina, esquecida no playlist, a tirar meu sono. Pedi com manha, tremendo o queixo, o mundo me obedeceu e parou pra que eu me jogasse no sofá. Om mani padme hum.

A sala escura, um filme ultrapassado na tevê que só me deixei distrair porque a pilha do controle remoto se aposentou por tempo de contribuição. Fechei os olhos e imaginei você de pé, ao lado do sofá, dizendo que não adianta pressionar forte os botões. Um pano no ombro pra limpar as mãos, perguntando com sobrancelhas de reprovação - "esse filme outra vez?" - vigiando na sua frigideira favorita aquele seus filés de sobrecoxa com ervas melhor do mundo.

Fechei meus olhos sorrindo pra não chorar. Gosto de imaginar você. Seu rosto azulado pela luz da tevê, o filme refletindo na lente dos seus óculos de armação elegante, minha melatonina despencando mansinho, um sonho gostoso se confundindo com o perfume de sálvia passeando fora da cozinha. Você se afastando bruscamente, como quem esqueceu de virar frangos."

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