"Dói. Se me perguntarem o que acontece, só saberei responder isso:
dói. Se me perguntarem onde é a dor, ainda assim só responderei: dói.
Tudo tem a ver com aquele grito reprimido, aquele sonho escondido,
aquele choro nem sempre contido: dói. Aquela vontade de cortar a garganta para não poder gritar. Aquela vontade de arrancar os olhos só pra não poder ver. Aquela vontade de esmagar o coração só para não poder sentir. Mesmo com todas essas coisas incapacitadas ainda assim doeria. Porque não está na garganta, nos olhos, no coração. Está
em toda parte, é como um câncer, e não tem quimioterapia, não tem
remédio, não tem nada que consiga remediar a dor da perda. Como é triste
lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a
se deteriorar irremediavelmente. Pequena dor. Grande chaga. Puro simulacro."
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